Carateca, Maurício faz surdez virar estímulo para treinar, correr e pedalar

Técnico de automação, que perdeu a audição quando criança por caxumba, foi faixa preta de caratê e busca motivação nas provas mais longas: "Era ansioso e inquieto"

Maratonas, meias, média de três corridas por mês e várias provas de ciclismo disputadas. São competições e momentos inesquecíveis para o técnico de automação Maurício Sá. Morador de Pedro Leopoldo, interior de Minas Gerais, ele perdeu a audição aos seis anos por conta de uma caxumba e hoje usa um implante coclear, que o ajuda a ter mais qualidade de vida. A história de superação do Maurício começou cedo, quando ainda era um adolescente ansioso e inquieto por causa da deficiência auditiva. Ele descobriu o caratê aos 14 anos e virou um lutador faixa preta.

- Durante a minha juventude fui atleta de corrida e me inspirei no nosso campeão olímpico do atletismo, Joaquim Cruz. Nas competições de 100m rasos, por exemplo, eu perdia preciosos centésimos da largada por ser surdo. Para melhorar o tempo, eu contava com a solidariedade dos professores que sinalizam com os braços as largadas, pois não ouvia o tiro - relembrou.

Para Maurício, a surdez não o atrapalha nos esportes, mesmo sem ouvir a buzina nas ruas. Uma vez, ele foi abalroado por um carro enquanto pedalava, mas nada de grave. A falta de incentivo aos atletas com deficiência no Brasil foi o maior problema enfrentado em épocas passadas.

- Contávamos com a solidariedade e a boa vontade dos organizadores para que pudéssemos participar dos eventos esportivos e não havia a Paralimpíada. Era apenas um assistencialismo, que não ajudava na motivação e no crescimento dos atletas paralímpicos - afirmou Maurício.

Quando abandonou o caratê, aos 32 anos, já casado e com uma filha no colo, decidiu apenas ficar nas peladas de futebol com os amigos no fim de semana. Mas como era "perna de pau" jogando bola, decidiu retomar os tempos de corrida e começou a pedalar. Aí não parou mais.

- Quando tive minha segunda filha migrei para o duatlo, misto de ciclismo e corrida, minha eterna paixão. Depois, foquei nas corridas longas e médias, como as de 21 e 42km - frisou.

De alguma forma, as dificuldades impostas pela limitação auditiva fizeram Maurício refletir sobre o significado da palavra superação. Assim, descobriu que podia fazer algo diferente tendo mais seriedade nos treinos, alimentação saudável e descanso adequado.
- Numa corrida, sou levado ao sentimento e à emoção. Haja adrenalina no meu sangue. Quando subo aos pódios, o sentimento é de que conquistei o mundo e vem o velho raciocínio confuso: "Eu sou o cara". É um momento único, deslumbrante e mágico - enfatizou.

Como forma de incentivo, Maurício faz questão de deixar uma mensagem para pessoas que não se sentem aptas a praticar um esporte, mesmo que sequer tenham deixado o sofá.

- Vista a roupa, calce o par de tênis e alimente-se adequadamente. Vá a uma rua e corra. Deixe a adrenalina entrar pelas veias e assim esquecerá os problemas do dia a dia. A corrida e o ciclismo são mais do que esportes, são filosofias de vida - encerrou.

Fonte: G1.com